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Pior do que o esperado, o crescimento da produção industrial em janeiro atenuou um pouco o maciço consenso firmado pelos analistas em favor de novo corte de um ponto na Selic na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central marcada para quarta-feira. Antes do dado sobre a atividade industrial, que apontou expansão de 2,3% sobre dezembro quando os analistas esperavam alta de 10%, o consenso de manutenção do ritmo de um ponto encostava em 90% dos analistas. Depois de divulgada a pesquisa do IBGE, algumas consultorias mudaram a sua previsão mas, mesmo assim, a grande maioria das apostas ainda é de baixa de 12,75% para 11,75%.
Tinha-se a certeza de que o Copom iria superar as divergências internas e, na segunda reunião do ano, decidir por unanimidade. Passados 45 dias desde o primeiro Copom do ano, realizado no dia 21 de janeiro, os desdobramentos da crise externa e os rumos tomados pelos indicadores internos de inflação e atividade sufocariam as vozes discordantes dentro do Comitê, as que defendiam uma redução de apenas 0,75 ponto. Naquele Copom, dos oito votantes, cinco definiram o corte de um ponto como início do ciclo de desaperto monetário e três escolheram a via branda do 0,75 ponto por terem dúvida sobre os efeitos da crise sobre a economia doméstica.
Embora a crise tenha piorado do dia 21 de janeiro para cá, eram poucos os economistas que viam a possibilidade de um Copom de novo surpreendente e divergente. No Copom anterior, menos de 10% dos analistas previam o resultado que acabou vingando. A maioria esperava baixa de 0,75 ponto, sem discrepância. Agora, o consenso se dá em torno da redução de um ponto. A surpresa virá sob a forma de uma diminuição mais acelerada e, de novo, por placar díspare. Mas depois dos números ruins sobre a produção industrial, uma decisão de corte de 1,5 a dois pontos não está mais sendo encarada como surpreendente. E certamente seria tomada de novo por placar não unânime. Esta opção aprofundaria o declínio dos juros futuros e derrubaria ainda mais o juro real projetado para 12 meses, já abaixo de 6%.
Para a economista-chefe do Banco Fibra, Maristella Ansanelli, o acirramento da crise financeira internacional e as perspectivas de um aprofundamento dos seus impactos sobre a economia real, tanto mundial quanto brasileira, "justificam uma aceleração no ritmo de cortes da taxa Selic na mesma linha do que foi feito na maioria dos outros países". A economia brasileira deve continuar sentindo os efeitos da desaceleração mundial, com chances muito reduzidas de uma retomada no curto prazo.
Vários bancos e consultorias não alteraram a estimativa de corte de um ponto neste Copom, mas mudaram a extensão do ciclo de cortes. O superintendente da Tesouraria do Banco Banif, Rodrigo Trotta, manteve a sua expectativa apesar de a produção industrial ter "assustado um pouco". Na sua visão, se o Copom optar por uma queda mais acentuada dos juros, irá diluí-la ao longo do tempo. Opinião semelhante é expressa pelo diretor da consultoria UP Trend, Jason Vieira. A tendência é de o Copom ampliar a duração do ciclo de queda, ao invés de intensificá-lo. "Não acredito que a queda da inflação seja tão lenta como se prega, principalmente devido a componentes sazonais que ainda imperam nas medidas de preço, mas a crise se mostra muito mais presente na economia brasileira do que anteriormente previa (e desejava) o governo", diz o economista. Roberto Padovani, economista-chefe do WestLB, também manteve a perspectiva de queda de um ponto, mas mudou o tamanho do ciclo. "O ano se encerra agora em 9,75%. Em abril e junho são dois cortes de 100 pontos-base. A razão não é apenas a produção industrial, mas uma significativa deterioração da crise nos EUA", diz.
A MB Associados alterou sua visão para as próximas reuniões. "Aumenta a chance de uma queda maior, sem sombra de dúvida. O que mudamos foi o call para o fim do ano de 10,75% para 10,25%, o que significaria outra queda de 1 ponto na reunião de abril e depois mais uma de 0,50 ponto", diz Sergio Vale, economista-chefe da consultoria. O economista-chefe da WAY Investimentos, Alexandre Espirito Santo, acredita que, se é hora de aprofundar o relaxamento monetário, o BC o fará por meio de um corte de 1,25 ponto, não de 1,50 ponto.
Embora todos os documentos e declarações oficiais conduzam à conclusão de que o Copom fará uma redução de apenas um ponto na Selic, o economista da Pentágono Asset Marcelo Ribeiro defende uma baixa mais ousada, entre 1,5 ponto e 2 pontos, por causa da "violenta desaceleração da economia". No seu entender, o impacto do câmbio sobre a inflação será uma preocupação num futuro próximo, mas isso não significa que manter uma política de aperto monetário vá conseguir controlar o problema. "Não estamos mais na fase das carry-trades e os investidores estrangeiros pouco se importam com diferencial de juros na hora de definir aonde alocar recursos. O que importa agora é a percepção de risco. Não vai ser um ponto percentual a mais ou a menos na Selic que vai fazer diferença no sentido de segurar a depreciação do real e seu consequente repasse para a inflação no futuro", diz Ribeiro. Pelo contrário, uma política de aperto monetário excessivo vai provocar uma deterioração ainda maior na economia brasileira, dificultando a "âncora fiscal" e precipitando uma fuga do real. "Se o real apresentar uma desvalorização muito forte, a resposta deve ser o controle de capitais e não aperto monetário", diz.
Paulo Gurgel Valente, diretor da Profit Consultoria, lembra que os efeitos das elevações da Selic no segundo semestre de 2008 ainda não foram totalmente absorvidos. "Portanto, há ainda muito espaço para redução significativa dos juros básicos sem temer inflação influenciada pelo câmbio", diz.
O economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luis Otavio de Souza Leal, acredita que, apesar da situação da economia continuar bastante ruim, como mostram as revisões constantes das previsões do crescimento brasileiro em 2009, a sensação é de que o pior impacto ocorreu no último trimestre de 2008, cujos dados foram tema das discussões no Copom de janeiro.
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